domingo, 22 de maio de 2011

A velha educação "embolorada"...

Por Alexandre Macedo



Há alguns dias estive pensando em centenas de mães e pais preocupados com o rendimento de seus filhos na escola. Dizem que esses "meninos e meninas de hoje" não querem saber de estudar, não querem nada da vida, etc., Enfim, fiz uma viagem ao tempo e, logo me dei conta, que nosso sistema de ensino é uma "roupa que não nos serve mais".

Concluí meu ensino fundamental e médio há quase 10 anos atrás e vejo que o perfil das escolas ainda é o mesmo! E o pior, o padrão é o mesmo da época de meus pais! O professor fala, o aluno escuta, as carteiras enfileiradas, aquelas fórmulas tipo: b²= 4ac, a conjugação do verbo "trabalhar" no futuro do subjuntivo ou a raiz cúbica de 289, etc, chega! O aluno não quer mais saber de tanta coisa chata e que não tem utilidade pra vida!

Sempre questionei a forma como se dá os vestibulares para o ingresso no ensino superior. No meu caso, para que eu conseguisse cursar uma faculdade, tive que estudar uma porção de coisas para realizar uma prova chata e "vomitasse" tudo aquilo que aprendi na minha vida inteira e no ano de cursinho naquele dia da prova. A tabela de Linus Pawling, as fórmulas do triângulo retângulo, equilátero, a fórmula da hipotenusa e outras nunca me fizeram falta! Não digo que todas essas coisas são totalmente inúteis, mas me pergunto: Para quê aprender tais coisas um aluno que pretende cursar Enfermagem, História, Psicologia, Filosofia, Química, Farmácia, etc.?

Queria mesmo era aprender sobre a vida, sobre as pessoas, sobre todas as coisas do mundo. Por que existe guerra? Por  que há fome? Por que há ricos e pobres? Por que há tanta violência, ódio, medo, depressão, suícidio, etc? O que é política? Por que existe prefeito, vereador, deputado, presidente? O que eles fazem? Por que votamos? Por que existe corrupção? Por que o nosso salário não dá pra comprar as coisas básicas? O que posso fazer para tornar o mundo melhor?

Nossas escolas deveriam ensinar isso! Deveriam educar para a vida! Os jovens de hoje não se interessam por "decoreba", querem coisas novas, querem criar, participar, fazerem algo para a sociedade. Portanto, não é anormal um adolescente não mais se interessar por esse modelo retrógado de escola que nós ainda temos.

Nos assustamos com o comportamento dos jovens em sala de aula, achamos que eles estão mais agressivos, não mais respeitam o professor e querem "matar" a aula sempre. Será que isso não é consequência da incompatibilidade entre MODELO RETRÓGADO DE EDUCAÇÃO X NOVOS PERFIS DE ALUNOS?

A sociedade vêm sofrendo constantes progressos. Com a era tecnológica vemos mais informações em um ano do que nossos avós viram durante toda a vida. As mudanças acontecem repentinamente e os modelos de educação se estacionam, não acompanham o tempo, estão "vencidos" e "emborolados".

Precisamos formar pessoas que se tornem protagonistas para uma nova sociedade. A escola deve ser espaço onde também se aprende o respeito ao próximo considerando todas as suas diferenças, sejam elas devido a: cor, raça, gênero, orientação sexual, religião, etc. Deve ser um lugar onde se aprenda a enxergar a realidade com criticidade para que possam, por sí próprias, identificarem as contradições e procurar formas de superar tudo que precisa ser transformado. Deve ser lugar onde os alunos aprendam diversas formas de se expresarem através da música, poesia, teatro, leitura, dança, folclore, artesanato, etc., e não lugares onde todos são formados como "robôs" simplesmente "programados" com diversas fórmulas que não servirão para nada em suas vidas.

Para isso, é preciso novos investimentos na educação. É preciso valorizar o trabalho de nossos professores, remunerá-los com salários justos, é preciso proporcionar a eles formações contínuas, enfim, é necessário um outro modelo de educação que atenda os anseios dessa nova geração, que segundo alguns estudiosos é denominda  "GERAÇÃO Y".

Com o advento da internet, da televisão e outras tecnologias a sociedade adquire novos padrões de comportamento e de ver o mundo. As informações são processadas de maneira rápida e, por isso, as mudanças acontecem de maneira bastante acelerada. A educação possui uma tarefa primordial nesse caso, ou seja, precisa fazer com que os estudantes decifrem o mundo e encoraje-os sempre a buscarem as melhorias necessárias para que nossa sociedade seja um lugar de paz e alegria a todos. Um ótimo assunto para se começar a debater é sobre política.

O que é política? O que é democracia? O que foi a ditadura militar? O que é Poder Executivo, Legislativo, Judiciário? O que é cidadania? Qual o papel do cidadão? Qual o papel do vereador, do prefeito, do deputado, senador, goverador, presidente? São indagações assim que nos levam a decifrar a realidade, conhecê-la e fazer com que ela seja cada vez mais agradável a todos. E a educação terá sempre importância fundamental nesse processo.

Paulo Freire dizia que a a educação muito mais que um processo de treinamento ou domesticação. Mas sim um processo que nasce da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora.

Finalizando, uma interessante reflexão a se fazer é pensarmos por quê em nosso país se investe tão pouco em educação? Penso que a partir de tais respostas não mais conseguiremos permanecer no lugar em que estamos e perceberemos que toda e qualquer melhoria depende de nossa luta, participação e pressão frente a toda corja de políticos vigaristas que deviam administrar e nos devolver em forma de benefícios toda a quantidade de impostos que são forçadamente arrancados dos nossos míseros salários.
Que venham novos tempos!

Abaixo, trazemos um ótimo texto para complementar a reflexão. Para lê-lo, clique em "CONTINUAR LENDO"



Escolas precisam educar para a vida

Onde aprendemos a decodificar fenômenos sociais, políticos e culturais dos quais depende o nosso futuro? O que sabemos em relação às nossas emoções e às relações do campo de trabalho, da família, da vida associativa e da vida nas organizações? Provocações como essas foram apresentadas pelo francês Philippe Perrenoud, um dos principais pensadores da educação moderna, durante a 18.ª Feira Educar Educador, em São Paulo.

Com a palestra “Qual a finalidade da escola do século 21: preparar uma elite para o ensino superior ou preparar os jovens para a vida?”, Perrenoud fez críticas ao sistema de ensino atual e lançou reflexões para o público, formado, em sua maioria, por educadores e gestores da área educacional. “As disciplinas estabelecidas no sistema educacional, baseada nos saberes como Química, Física, Biologia, Matemática, História e Geografia, têm abordagens desiguais e limitadas para preparar para a vida”, disse.

Ele defende que a escola deveria se concentrar mais em outras disciplinas, como a educação física, musical e artística; a cidadania, o desenvolvimento sustentável, a saúde, a comunicação, a tecnologia, a interculturalidade, entre outras. “Todas elas visam o preparo para a vida, mas disputariam um quarto da carga horária, o que ficaria difícil conciliar com as disciplinas tradicionais”, explicou.

Competências
Formar uma criança ou adolescente hoje é diferente da formação integral dos anos 80. A diretora do conselho pedagógico da Aymará Educação e doutora pela Universidade de São Paulo (USP) elenca algumas competências para a educação do século 21:

- Considerar o aluno como copartici­pante do processo educacional. Ele não pode mas ser passivo;

- Acentuar o caráter crítico da forma­ção, isso é, analisar as mudanças e fa­­zer com que o aluno tome uma po­­sição em relação a elas. Que ele seja sujeito do seu querer e do seu fazer;

- Criar espaços de efetiva convivência para trocas de qualidade de vivências, qualidade de experiências, de êxito e de qualidade humana, e não mais ficar na formalidade;
- Usar a tecnologia com humanismo e respeito frente a uma sociedade onde permeia os crimes virtuais, o cyberbullying e o assédio moral.
É necessário, segundo ele, buscar uma igualdade dessas “novas” educações com as tradicionais. “Não podemos aceitar que um aluno que viva em um mundo intercultural não seja preparado para isso”, critica. O mesmo deveria, diz Perrenoud, se estender para os ramos da Psicologia, Sociologia e do Direito, ciências básicas que, segundo ele, não poderiam ficar de fora dos currículos escolares.

Tempo

Para o educador, não estamos sendo preparados para enfrentar crises e sofrimentos como o divórcio, o desemprego, a doença, o conflito e o assédio, por exemplo. E o tempo, revela ele, é o maior inimigo. “O tempo investido na preparação de uma longa escolaridade fará falta na vida adulta das crianças de hoje que deveriam ser muito mais preparadas para uma vida ativa do que para uma vaga no ensino superior”, opinou.

Mas, destaca Perrenoud, a escola não tem conseguido dar conta de realizar as duas tarefas e este não é um problema fácil de solucionar. “O importante é iniciar o debate e fazer as pessoas pensarem. Temos que prestar mais atenção nas pesquisas individuais, aquela que cada um de vocês, seja pai ou professor, perguntará ao seu filho ou ao seu aluno quando chegar em casa: ‘o que realmente você gostaria de aprender?’”.

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