domingo, 1 de maio de 2011

1º de maio: uma data de conquistas e insatisfações



Júlio Black
Volta Redonda


O Dia do Trabalhador é comemorado há quase um século na data de hoje em diversos países para lembrar as lutas e conquistas dos trabalhadores. O dia 1º de maio foi escolhido para lembrar os protestos feitos por trabalhadores americanos em Chicago, no ano de 1886, que exigiam a redução da jornada de trabalho de 16 para 8 horas, e pode-se afirmar que, nestes últimos 125 anos, a situação trabalhista teve melhora considerável.

Apesar dos avanços, ainda são muitos os desafios de quem precisa enfrentar o mercado de trabalho: baixos salários, poucas oportunidades, exigência de experiência, falta de qualificação e até mesmo preconceito por conta da estética ou da idade - além de muitas vezes ter de se submeter ao mercado informal, onde não se tem a Carteira de Trabalho Assinada. O que acaba fazendo com que muitos vejam o Dia do Trabalhador como apenas mais um feriado.
Isso obviamente, para quem não terá de trabalhar no dia de hoje, caso do assistente de produção financeira Everton Felipe Ramos Luiz, de 23 anos, e que trabalha há pouco mais de um ano em uma loja de departamentos. Sem opções na área em que se formou no ensino superior (Recursos Humanos), ele começou como temporário no final de 2009 e conseguiu ser efetivado ao final do período. A situação atual não o deixa muito motivado, mas ele diz que conseguir emprego na área em que se especializou é ainda mais difícil:

- São poucas as oportunidades para se trabalhar no setor de RH, ainda mais que eles costumam exigir que tenhamos experiência em carteira. Deveriam oferecer uma chance para quem deseja seguir a carreira, mesmo que fosse como estagiário ou trainée - reclama.
Opinião parecida tem o operador de caixa Müller César Couto de Oliveira, que exerce a função há três anos apesar de ter feito cursos como o de operador de ponte rolante. Assim como Everton, novas oportunidades não surgem devido à falta de experiência.
- Eu vim de angra dos Reis para cá quando me casei, e ainda não tive uma chance de mudar de emprego. Estou fazendo outros cursos a fim de melhorar minha condição salarial no futuro, mas para isso é preciso que valorizem o funcionário e também quem procura por emprego - afirmou.
Os dois também reclamam da atuação do sindicato da categoria que, segundo eles, "fala uma coisa, mas o que acontece na realidade é totalmente diferente".

Salário curto e boa ‘aparência'

As vendedoras Juliana da Cruz Pinheiro, 23, e Rafaela Lima, 21, são outras a definirem a questão salarial como insatisfatória.

- O salário aumentou um pouco, mas as coisas em geral aumentaram ainda mais. Eu resolvi fazer um curso de contabilidade a fim de melhorar minha situação, pois a remuneração do comércio é muito baixa, mesmo com a comissão - destacou Juliana.
- Eu fiz o curso técnico de enfermagem, mas a procura é grande e o salário compensa ainda menos que o do comércio. Mas meu objetivo não é ficar eternamente nessa área de vendas, planejo iniciar no próximo ano o curso de Direito - declarou Rafaela.
As duas relatam, ainda, que, apesar de o comércio em geral não exigir uma formação acima do 2º grau, outra questão pesa, muitas vezes, mais do que a necessidade de experiência comprovada em carteira ou mesmo os baixos salários: o preconceito em relação à aparência e à idade.
- Todas as lojas pedem que o currículo venha acompanhado de foto. Acho isso errado, porque eles abrem mão da competência e valorizam apenas a aparência - protestou Rafaela.
Ela contou o caso de uma amiga que se ofereceu para trabalhar em uma loja em um dos principais centros comerciais da cidade, e que perdeu a vaga porque - segundo a dona da loja - ela precisava perder oito quilos para se adequar aos padrões estéticos do estabelecimento - que só contrata loiras.
- Vi que muitas lojas não contratam negros ou obesos, muitas vezes vistos apenas trabalhando em lanchonetes. A gente acaba vendo o primeiro de maio apenas como descanso, porque não podemos comemorar algo que não existe na realidade:  condições de trabalho e oportunidades iguais para todos - desabafou Rafaela.


‘Último serviço'

Não só a aparência conta muitas vezes no momento de se procurar o emprego: a idade - apesar de tantos empregadores exigirem experiência - também acaba pesando negativamente na hora de buscar novos rumos profissionais. É o caso da balconista Andréa Araújo Bernardo, de 43 anos. 

- Esse vai ser meu último serviço, porque se eu sair daqui não consigo mais nada. Quando você fala a idade as portas se fecham, não importa a sua experiência e disposição para trabalhar. Não faz sentido, ao mesmo tempo em que exigem experiência não querem idade. Parece que só têm interesse em contratar gente entre 18 e 30 anos - disse Andréa, que viu o caso de uma amiga que perdeu uma oportunidade exatamente por não se enquadrar na idade exigida.
Ela - que sempre trabalhou com a carteira assinada - atualmente não está registrada, situação que declarou ser "momentânea" em razão dos problemas enfrentados pelo atual empregador. Mas a informalidade não é exceção, segundo declarou.
- Conheço muitas situações assim [de informalidade], mas com o tempo eles acabam assinando a carteira. Meu filho mesmo teve sua situação regularizada depois de quase um ano trabalhando - exemplificou.


Trabalho dobrado - mas com satisfação

Embora não sejam poucos os casos de pessoas insatisfeitas com o emprego que têm ou com a falta de oportunidades, ainda é possível encontrar quem esteja satisfeito com o rumo que sua vida profissional tomou - mesmo que o trabalho seja extenuante.

É o caso da professora Ana Malfacini, de 36 anos. Ela trabalha em pelo menos quatro instituições de ensino diferentes - entre o ensino médio da rede pública estadual e instituições de ensino superior - muito disso graças ao mestrado feito anos atrás. Se a carga horária é puxada, ela não se deve, conforme disse, a uma remuneração baixa.
- Uma vez que temos um determinado padrão de vida você quer se manter nele. Mas não é só isso, existe também a parte da realização profissional, existem lugares em que você não consegue dizer "não", mesmo que o salário não seja dos melhores. São situações em que o contato humano compensa, além dos contatos futuros - explicou Malfacini.
Ana também destacou o fato de que investir na qualificação profissional tem valido a pena, pelo menos para quem pretende trabalhar na área acadêmica.
- Já existe no ensino superior a cultura de se contratar pessoas com mestrado. É justo valorizar em quem investiu na carreira, são cursos caros, que demandam sacrifícios. No meu caso, o mestrado ajudou, e muito - disse a professora que, mesmo se definindo uma "equilibradora de pratos" por ter de lidar com os diversos empregos, os filhos, casa, marido e a mãe, se considera feliz com a carreira.

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