domingo, 24 de abril de 2011

Número de parentes transforma o Congresso em casa de família

MATHEUS JASPER NANGINO         Publicado no Jornal OTEMPO em 24/04/2011

Não são apenas médicos, empresários, engenheiros ou agricultores que têm o hábito de direcionar os filhos na mesma profissão. Também na política, nos mandatos eletivos, é possível verificar essa tendência - que faz com que o Congresso Nacional se torne, cada vez mais, uma casa de parentes.


No Senado, por exemplo, segundo levantamento feito pelo site "Congresso em Foco", dois de cada três senadores têm ou teve algum parente na política. Dos 85 parlamentares que exerceram ou exerceram o mandato este ano, entre titulares e suplentes, 57 são filhos, netos, pais, irmãos ou têm algum tipo de parentesco com outro político. Em Minas, os senadores Aécio Neves (PSDB) e Clésio Andrade (PR) tinham pais com carreiras consolidadas na política.



O pai do tucano, Aécio Cunha, duas vezes deputado estadual e seis vezes deputado federal, já tinha no sangue o gosto pela política. Tristão Ferreira da Cunha, pai de Aécio Cunha, foi deputado estadual constituinte pelo Partido Republicano Mineiro, deputado federal por três mandatos e secretário de Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho no governo de Juscelino Kubitschek. Do lado materno, Aécio Neves também herdou o gosto pela política. O senador foi secretário particular de seu avô, Tancredo Neves, a partir de 1982, quando Tancredo elegeu-se governador de Minas.



Clésio Andrade também tirou do pai, Oscar Soares de Andrade, a inspiração para a vida pública. Oscar foi prefeito de Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com apenas 22 anos, o pai de Clésio foi eleito vereador em Mateus Leme. "Foi quando tudo começou. Depois disso, papai voltou para a sua atividade empresarial e após muito tempo, já com a vida feita, foi chamado para ser intendente pelo então governador Hélio Garcia, quando Juatuba se emancipou. Depois ele foi eleito prefeito duas vezes", conta Clésio.



Pelo Brasil. Em dez Estados do país, os três senadores de cada unidade da Federação são familiares de políticos: Alagoas, Maranhão, Paraíba, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe, São Paulo e Tocantins. Entre os partidos, o PMDB é o que reúne mais parlamentares com ramificações políticas, totalizando 18 dos 22 senadores que exercem mandato pela legenda. Da última legislatura para essa, o número de senadores com algum parente na política aumentou 40%.



Em muitos casos, o parente que se engajar na político consegue atingir postos maiores que os de seus antepassados. A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), por exemplo, é prima do deputado estadual Márcio Monteiro (PSDB), e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) é neto do ex-deputado estadual Francisco Lima.
ANÁLISE
Concentração de poder em sobrenomes tradicionais
O grande número de congressistas com parentes na política é uma mostra clara, segundo cientistas políticos, de que a concentração do poder aumenta nas mãos de poucas famílias. Para o cientista político da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Costa Oliveira, os partidos são controlados por algumas famílias já tradicionais na política.


"O PMDB, e mesmo legendas de esquerda, estão sendo monopolizados por famílias que controlam os partidos. Esse é um fator para a reprodução das famílias na política", afirma. "Isso é a ponta do fenômeno no Legislativo. Há grandes redes de cumplicidade e de favores conectando Legislativo, Judiciário, Executivo e todas as instituições do sistema político", analisa.(MJN)
RIO GRANDE DO NORTE
Pai e filho lado a lado no Senado
A situação de parentes no Congresso Nacional é tão inusitada que, neste ano, o Senado chegou a ter pai e filho representando o mesmo Estado. Garibaldi Alves, o pai, e Garibaldi Alves Filho, são representantes do Rio Grande do Norte na Casa.


O filho, que já presidiu o Senado, só não está atualmente no Congresso porque acabou sendo chamado pela presidente Dilma Rousseff (PT), para ser ministro da Previdência Social.



Também chamado para um ministério, o de Minas e Energia, o senador Edison Lobão (PMDB), deixou a cadeira no Senado para Edison Lobão Filho, o "Lobinho", que foi eleito seu suplente. Lobão Filho já havia assumido o lugar do pai na legislatura passada. Ele, no entanto, nunca disputou um cargo eletivo e, até agora, só esteve na política por causa dos votos do pai, na condição de suplente.



O grau de parentesco entre senadores não acaba por aí. Além de Garibaldi Alves e Edison Lobão, o mineiro Aécio Neves é primo do atual senador fluminense Francisco Dornelles (PP). Assim como Aécio, Dornelles é sobrinho-neto de Tancredo Neves.



Na Casa, há, ainda, um caso de separação. A senadora paulista Marta Suplicy se divorciou do senador Eduardo Suplicy, mas não deixou o sobrenome do ex-marido. (MJN)
Sobrenome
Poder. Na urna, sobrenome de peso é poderoso. Muitos filhos de parlamentares que não herdaram o sobrenome do pai acabam adotando-o politicamente. Da mesma forma, casais que se separam optam por continuar usando o nome do ex-cônjuge</CW>.</MC>


Luz própria. Entre aqueles em que o familiar parece ter tido pouca influência, está a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS). Eleita na cola do ex-senador Octávio Omar Cardoso, de quem ficou viúva em 1987, ela segue até hoje com mandato na Casa, após sucessivas reeleições.
DEPUTADOS
Bancada de parentes cresce e representa 48% da Câmara
Pais cumprem os mandatos, mas já preparam futuras carreiras dos filhos
Matheus Jasper Nangino
Na Câmara dos Deputados, a "bancada dos parentes" é forte. Segundo levantamento do "Congresso em Foco", dos 564 deputados que assumiram mandato este ano – entre titulares, suplentes e licenciados –, 271 são parentes de políticos. O total corresponde a 48% da Casa.


Onze dos 22 partidos com assento na Câmara têm ao menos metade de sua representação formada por deputados federais com familiares políticos. PMDB, DEM e PP são campeões no número de parlamentares com parentes na política, entre as cinco maiores bancadas da Casa.



A chamada "bancada dos parentes" triplicou na Câmara nos últimos quatro anos. Na legislatura passada eram 92 deputados com elos políticos familiares. Em Minas, os exemplos são muitos: hoje, 32 dos 53 deputados federais mineiros têm parentes na política. Vasconcelos, Bilac Pinto, Castro, Guimarães, Delgado, Abi-Ackel são sobrenomes conhecidos há muito tempo na Câmara dos Deputados.



O que mudou nos dias de hoje foram os nomes. Dentre os filhos que ocupam cadeiras que já foram de seus pais estão Bernardo Vasconcelos (PR), Bilac Pinto (PR), Rodrigo de Castro (PSDB), Júlio Delgado (PSB), Paulo Abi-Ackel (PSDB) e Gabriel Guimarães (PT) – que sequer tem Guimarães em sua certidão de nascimento, mas não abriu mão de usar o sobrenome do pai, Virgílio Guimarães (PT-MG).



Futuro. Alguns dos que não foram ajudados pelos pais, preparam agora os filhos para a vida política. O filho do deputado federal Lincoln Portela (PR), Leonardo Portela, por exemplo, já se tornou o presidente do diretório do partido em Belo Horizonte, e conquistou o cargo de subsecretário de Relações Institucionais no governo de Minas Gerais.



"Nas quatro campanhas do meu pai eu fui coordenador de três, e esse convívio com a política acaba influenciando a gente. Sempre me interessei pela parte da política de construir, de agregar", disse Leonardo.



Ele não descarta, no futuro, poder ser candidato nas eleições para deputado. "Hoje eu sou membro do governo e quero ajudar na boa gestão. O futuro a gente reserva ao próprio clamor das bases. Não sou a favor do exercício parlamentar só por ser filho de parlamentar. Carreira política cada um tem a sua própria. Se o meu trabalho me credenciar para isso, pode ser uma possibilidade", afirma Leonardo Portela.

TRADIÇÃO
Andradas estão há quase 200 anos no Congresso
São 190 anos na política. Nesse tempo, 15 deputados e senadores, quatro presidentes da Câmara, oito ministros de Estado e dois ministros do Supremo Tribunal Federal, além de governadores, prefeitos e vereadores. A família Andradas chegou ao Congresso Nacional antes mesmo de ele existir, ainda nas Cortes Portuguesas, em 1821, e não deixou mais o Parlamento.


Nos dias atuais, o nome da família na Câmara dos Deputados é o do mineiro Bonifácio Andrada, que, aos 80 anos, está no seu nono mandato. Bonifácio afirma que não tentará o décimo mandato, mas já prepara terreno para os herdeiros políticos, e garante que a dinastia vai continuar. "Um dos meus filhos vem aí. São três possíveis candidatos", afirma Bonifácio.



O mais cotado é o filho caçula de Bonifácio, o secretário de Defesa Social de Minas, Lafayette Andrada (PSDB). "Quando era criança em Barbacena, meus irmãos, eu e nossos amigos brincávamos de eleição. Fazíamos votação com caixa de sapato e papel de rascunho. Inventávamos partidos. A gente ganhava e perdia", conta Lafayette. "Nós nascemos nesse meio. Na minha infância e juventude, meu pai e meu tio eram deputados, meu avô foi deputado. Meus irmãos mais velhos eram vereadores. Nós nascemos em um ambiente que respirava política. Minha vida foi apontando para esse caminho", disse. (MJN)
Situação similar também na Assembleia Legislativa de MG
Na Assembleia Legislativa de Minas, a bancada dos parentes também está presente. Os deputados estaduais Elismar Prado (PT) e Lisa Prado (PSB) são irmãos. Os dois ainda são irmão de Weliton Prado (PT), que é deputado federal, e primos de Gilmar Prado (PT), vereador na cidade de Uberlândia.


"Somos diferentes das famílias tradicionais. Não nascemos em berço de ouro nem ganhamos nada de mão beijada. Essa é a grande marca", afirma Elismar Prado.



Nas últimas eleições, a população também elegeu, para a Assembleia de Minas, Agostinho Patrus Filho (PV), Lafayette Andrada (PSDB), Adalclever Lopes (PMDB), Gustavo Valadares (DEM), Gustavo Perrella (PDT), Bruno Siqueira (PMDB) e Tiago Ulisses (PV). Todos são filhos de deputados ou ex-deputados. (MJN)
Fenômeno acontece em sociedades tradicionais
O que explica a perpetuação das famílias no poder é o grau de informações que os políticos adquirem para vencer as eleições, que é passado de pai para filho. É o que explica o professor da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto. "Você tem fonte de informação sobre o que é necessário fazer para vencer uma eleição. Na medida em que o conhecimento é compartilhado, há uma vantagem estratégica. Você já sai em uma eleição com referências, com credenciais", explica Barreto.


Segundo o especialista, esse fenômeno é observado também em outros países, mas prevalece em regiões com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo. "Boa parte desse fenômeno acontece em sociedades mais tradicionais do ponto de vista de eleitores, que têm como critério de voto apenas o costume", destacou Leonardo Barreto. (MJN)

2 comentários:

  1. E veja como é a situaçao em Capelinha: um feudo da Aricanduva-Gouvea.E Vieira +Cordeiro,Cordeiro+Vieira e vao se alternando e fazendo tudo como se estivessem no quintal de casa.Sabe que mais? O povo merece estes traias,ja que nao se move nem para arranjar bons e novos nomes.O POVO CAGAO!

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  2. Acho que o povo de Capelinha nao merece esses políticos que tão ai. Tudo igual na reportagem, filhos e parentes de político. Capelinha ainda é um curral eleitoral e os sinhozinhos vão se alternando ano a ano!!

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