terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O vento das mudanças inevitáveis e seus percalços

Por Douglas Lima twitter.com/douglasjlima

Não foram poucos os capelinhenses que ficaram espantados diante da vexatória situação protagonizada por representantes municipais e aspirantes ao poder de Capelinha nos últimos meses de 2010. Todos os limites da ética e do respeito ao povo da cidade foram colocados de lado em um momento no qual a população local foi solenemente ignorada naquele episódio que seria cômico, se não fosse trágico.

Cabe salientar que a situação foi apenas um dos muitos atos bizarros representados no cenário político capelinhense. Ao longo dos anos o que se assistiu na cidade foram intermináveis disputas partidárias, mal uso e desvio de recursos públicos, compra de votos e uma política em grande medida demagógica. Isso é um fato inquestionável. No entanto, é mister reconhecer, momentos de lucidez e de administração minimamente decentes ocorreram nas últimas décadas. O problema reside ai, pois foram apenas parcos momentos que logo se perderam em intermináveis redes de disputa e jogos de interesse.

Demorou para surgir uma reação dos cidadãos capelinhenses e isto é explicável. Como um historiador quase formado entendo que políticas, sociedades e culturas estão sempre em transformação e formação. É muito simples, ninguém nasce sabendo tudo. As informações são assimiladas aos poucos e as pessoas se transformam ao longo do tempo.

Quem viveu ou estuda os anos de 1980 sabe muito bem que este foi um período de grandes tranformações na sociedade brasileira. Depois de ficar por mais de vinte anos sob jugo da ditadura civil-militar, o país, enfim, voltou aos trilhos da eterna busca pela democracia. Mas esse termo, que carrega tantas interpretações, ainda não foi plenamente assimilado por nossos compatriotas. Há grandes interesses em manter as pessoas fora de discussões políticas e em muitas regiões é quase um sacrilégio membros de camadas populares meterem-se na busca por seus direitos e por mudanças sociais. Isso revela que ainda existem perseguições por parte de personagens que detém o poder e a manipulação de situações é uma realidade.

No entanto, surgiu nos últimos anos uma variável até então inexistente e que expôs os vícios do sistema de uma forma inédita: a internet. Antes desse poderoso recurso entrar em ação era quase impossível para a maior parte das pessoas tomarem conhecimento de realidades que lhes eram distantes, de direitos que lhes foram solenemente negados e de informações que não são encontradas em jornais impressos, revistas e programas televisivos. A internet mudou as relações de poder até então impostas.

Nos últimos meses o mundo acompanhou grandes manifestações que se espalharam pelo norte da África e alguns países do Oriente Médio. Primeiramente na Tunísia e depois no Egito milhares de manifestantes lotaram as ruas com o objetivo de modificar a situação política de seus países que são ditatoriais. É um processo que ainda está se desenrolando e que está longe de terminar. Mas as conquistas já são percebidas. No Egito, por exemplo, o regime proibia as manifestações, proibição que caiu por terra quando ruas e praças foram invadidas por centenas de milhares de egípcios sedentes de democracia.

Diante do exposto algumas perguntas são inevitáveis: como todas aquelas pessoas se articularam? De que forma conseguiram informações a respeito do que se passa no resto do mundo? Em que elas se basearam no momento de fazer reivindicações e como interpretaram as informações? Não foram nos jornais e muito menos em programas televisivos de emissoras públicas daqueles países. Os manifestantes articularam-se pela internet. Neste espaço, que está em todo mundo e em lugar nenhum ao mesmo tempo, os interessados se informaram, encontraram ideais comuns e formaram um forte grupo. No Egito as manifestações foram discutidas e planejadas por mais de um ano em uma comunidade no Facebook com mais de 80 mil pessoas.

A internet como meio e mediadora de lutas, aspirações e transformações políticas é um processo global. Acontece na China, mesmo com a tentativa de censura por parte do governo daquele país, no interior do México, em comunidades Maori da Nova Zelândia, entre bolivianos, norte-americanos, jordanianos e Capelinha não está à margem desse desenrolar.

O Movimento Muda Capelinha surgiu a partir de articulações realizadas pela internet. Em menos de quinze dias ajuntou em uma comunidade no Orkut mais de 450 insatisfeitos com o ambiente de politicagem reinante no município. Grandes discussões foram realizadas no espaço e após alguns dias um manifesto foi lançado com as diretrizes do movimento. Vários blogs do Vale do Jequitinhonha repercutiram e apoiaram a reação. Criu-se um blog próprio, perfis no Twitter e no Orkut e disponibilizou-se no Petição Online o manifesto para quem partilha de seus ideais assiná-lo. Em menos de 3 semanas o blog discutiu a situação política da cidade, os meios de participação democrática da sociedade civil, experiências realizadas em outras paragens onde a população fiscaliza os gestores municipais e denunciou-se os processos que notórios personagens políticos capelinhenses respondem na justiça. O blog também não se furtou de publicar e denunciar o descaso vivenciado em vários setores e ambientes da cidade. Nessas 3 semanas foram recebidos mais de 120 comentários sobre as publicações.

Tudo isso sem um líder, um responsável, um salvador da pátria ou um guia genial da nação dos insatisfeitos. E porque? Porque nas discussões realizadas no Orkut ficou-se estabelecido que o MMC é apartidário e democrático. As pessoas que se envolveram nas discussões possuem nome, endereço e identidade. Não são anônimos e o MMC não é apócrifo. Todas as postagens de denúncia são assinadas e seus autores estão plenamente convictos dos seus papéis a serem desempenhados na sociedade. Porque uma liderança não sugiu até o momento? As discussões ainda estão em curso, as informações estão em fase de assimilação e definitivamente não é objetivo do grupo procurar desavenças e bagunçar ainda mais o turbulento cenário político de Capelinha. Está no Manifesto do MMC: “nossa bandeira é a educação política, única forma de fazer com que as pessoas compreendam o valor do voto, conheçam seus direitos e não compactuem com a vergonhosa realidade presente.”

Não é objetivo do Movimento transformar-se em mais uma via política na cidade. Seus mentores não possuem aspirações eleitorais e no dia em que o MMC misturar-se com a velha politicagem capelinhense e seus personagens tarimbados será uma proposta desvirtuada. Repetir os fatos do passado não traz mudanças, eleger um indivíduo para falar em nome de milhares não tem efeito. A mudança só será alcançada quando um grupo esclarecido estiver articulado.

Ninguém responde pelo MMC e nem colhe pessoalmente os seu frutos, mas todos que compartilham suas ideias podem participar. Mesmo porque aqui, não há pessoas com medo de mostrar o rosto.

6 comentários:

  1. O que pode o velho contra o novo?Aderir a ele e harmonizar tanto quanto possivel a convivência entre ambos porque ,como diz Belchior e fisòfosos dialéticos,o NOVO SEMPRE VEM!
    O texto está perfeito.Parabéns!

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  2. Protestos na África mostram papel das redes sociais digitais na mobilização política contemporânea, diz pesquisador da Ciência Política

    Estudioso de teoria democrática e das relações entre comunicação e política, Ricardo Fabrino Mendonça vê nos acontecimentos recentes em países como Tunísia e Egito uma indicação da capacidade das tecnologias digitais de dar projeção a questões políticas e criar novas possibilidades de mobilização.

    http://www.ufmg.br/online/arquivos/018154.shtml

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  3. Helio, postar como anonimo é legitimo, ate o ministerio publico e outros orgaos aceitam denuncias de forma anonima.è realmente uma pena que voce que esta começando um negocio como um jornal tome uma atitude desta.AFFF, $$$$$$

    " Cada nação tem o governo que merece".

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  4. Dá vergonha certos pseudos-formadores de opinião q se vê por aí...

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  5. uma noticia sem uma fonte, ou uma postagem anonima nao tem valor juridico..uma denuncia anonima atraves de telefones divulgados que seja um canal entre a sociedade e a policia que tem o poder de investigar e apurar ai sim..

    em blog realmente é a chato.. escreve uma carta anonima para um meio de comunicação pra ver se é publicado, jamais será. isso ´se torna covardia , por isso a constituiçao proibe o anonimato.. abraço e boa sorte para o movimento de voces

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  6. Parece que faltava cobrança: o blog Capelinha -MG ,cujo responsavel ninguem sabe ,ninguem viu,postou a data de reunião e afirmou que a PFCApelinha vai dar noticias de sua (indi ?)gestão.
    Queremos cronograma das reunioes da camara.

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